Receita Federal intensifica cobrança de adicional de contribuição previdenciária

Receita Federal intensifica cobrança de adicional de contribuição previdenciária

A Receita Federal intensificou nos últimos meses as fiscalizações para cobrar o
recolhimento da contribuição adicional aos Riscos Ambientais do Trabalho (RAT),
pago quando há empregados com direito à aposentadoria especial.

Os valores exigidos do adicional – chamado de GILRAT – são referentes a trabalhadores expostos
a ruídos e tem como base decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2014.
Em dois meses, diz o advogado Caio Taniguchi, sócio do TozziniFreire, doze clientes
foram fiscalizados. Desses, três já sofreram autuações fiscais, de valores
significativos. “Tenho dito às empresas que é de 100% a tendência de as fiscalizações
terminarem em autuação”, afirma. Os maiores alvos, segundo ele, são grandes
empregadores, dos setores de alimentos, automotivo, construção civil e de
eletrodomésticos.
O tema, alvo de disputa jurídica, é uma das prioridades da Receita Federal, de
acordo com plano de fiscalização anual. No fim de 2021, o órgão notificou 6.150
empresas em todo o Brasil para se regularizarem espontaneamente. Previa um
recolhimento, com a medida, de R$ 242 milhões para os cofres públicos. O órgão
informa, em nota ao Valor, que vai divulgar o resultado dessa operação “em breve”.
Segundo advogados, a Receita percebeu um filão de arrecadação relevante com o
adicional. Dizem que é fácil para o órgão fiscalizar pela maior exposição das
empresas a cruzamento de dados.
Desde outubro de 2021, lembra Alessandro Mendes Cardoso, sócio do escritório
Rolim Advogados, as companhias são obrigadas a incluir no eSocial informações
sobre saúde e segurança do trabalho, como fornecimento de equipamento de
proteção individual (EPI) e o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) do
empregado – que esclarece, entre outros pontos, se o empregado esteve sujeito a
agentes nocivos à saúde, o que inclui o ruído.
Além disso, os especialistas apontam que existe um problema comum das
empresas de falha documental. Para fechar, os contribuintes não têm conseguido
derrubar cobranças no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). A quase
totalidade das decisões, dizem tributaristas, é favorável à Fazenda.
“É um tributo com um apelo social importante, por custear aposentadorias
especiais, o que ajuda a justificar o esforço da Receita Federal e a intensificação nas
fiscalizações”, afirma o advogado Pedro Ackel, sócio do escritório WFaria.

O GILRAT incide sobre o valor da remuneração do trabalhador. Varia entre 6%, 9%
ou 12% a depender do tempo de trabalho para a aposentadoria especial – de 15, 20
ou 25 anos. Quanto menor o tempo para a concessão do benefício maior a alíquota
a ser paga pelo empregador.
Um dos que tem direito é o trabalhador exposto a ruído diário superior a 85 decibéis

  • limite tolerado pela Norma Regulamentadora (NR) 15, do Ministério do Trabalho.
    De acordo com o Ministério da Previdência, 128,3 mil aposentadorias especiais
    foram concedidas entre 2017 e 2022. O pico ocorreu em 2020, primeiro ano da
    pandemia, com 25.704 concessões.
    A Receita faz essa cobrança do adicional com base em decisão do STF, de 2014. Os
    ministros entenderam que se a empresa fornece equipamento de proteção
    individual eficaz, o empregado não tem direito a se aposentar com menos tempo de
    serviço – e, nesse caso, o contribuinte está livre do adicional. Abriram uma exceção,
    porém, aos casos de funcionários expostos a ruídos.
    Com base nessa decisão (ARE 664335), a Receita publicou o Ato Declaratório
    Interpretativo (ADI) nº 2/2019. Nele, firmou posição de que a contribuição adicional
    ao RAT é devida pelo empregador nos casos em que a concessão da aposentadoria
    especial não puder ser afastada pela neutralização dos riscos ambientais pelo
    fornecimento do EPI.
    Tributaristas apontam que muitas empresas não têm recolhido o adicional. Isso
    porque discordam da interpretação do Fisco em relação à decisão do STF. “A Corte
    criou uma presunção relativa”, diz Caio Taniguchi, do escritório TozziniFreire.
    Segundo ele, a mera declaração da empresa não bastaria, mas a aposentadoria
    especial poderia ser afastada se o empregador for capaz de demonstrar que o EPI
    neutraliza ou reduz a exposição. Consequentemente, não teria que pagar o adicional
    do RAT. “A ideia não é pagar menos tributo, mas pagar quando de fato for devido.”
    Alessandro Mendes Cardoso, do Rolim Advogados, afirma que o julgamento do STF
    tratou de benefício previdenciário e não de custeio. Aponta, ainda, que, para a
    cobrança seria necessária uma alteração na Lei nº 8.213, de 1991, que trata dos
    planos de benefícios da Previdência Social, o que não teria ocorrido.

    “É como se houvesse majoração de tributos sem passar antes pelo Congresso. Por
    isso, é uma matéria com grande foco de contencioso e uma preocupação das
    empresas”, diz o advogado.
    Ele acrescenta que o entendimento atual tira o efeito do adicional do RAT para além
    da arrecadação. “Incentiva o empregador a investir em EPI para que não tenha custo
    tributário. Se desvincula a isenção tributária e o EPI – que, sim, é obrigação
    trabalhista -, perde o caráter extrafiscal.”
    Em nota, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) afirma que a tese
    defendida pelo órgão vai na linha do ADI nº 2/2019, da Receita. “Partindo desse
    pressuposto, a discussão em cada processo é delineada em termos eminentemente
    fáticos”, diz o órgão.
  • Fonte: Valor

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